A dor da Perda Gestacional

04/03/2018 Hoje eu quis trazer para vocês um conteúdo que tem muito a ver com a minha prática, e que durante minha atuação como Psicóloga Hospitalar já ouvi diversos relatos, de colegas de profissão à pacientes e acompanhei este sofrimento de perto. Por esse motivo, quis trazer esse tema tão delicado como uma conversa com vocês, me colocando à disposição para tirar dúvidas posteriormente.

A maioria de nós já escutou de algum conhecido alguma história de perdas gestacionais, que muitas vezes são nomeados de abortos espontâneos, ou seja, aqueles abortos que acontecem em algum período da gestação, mas que não foram provocados, simplesmente aconteceram. Essas perdas podem vir a acontecer logo no início da gravidez, mas também pode vir a acontecer pouco antes deste bebê estar preparado para nascer.

Independente da fase da gestação, a perda gestacional provoca nos pais e familiares um intenso sofrimento, principalmente devido aos conflitos causados entre a vida e a morte em uma fase em que só enxergamos vida. Quando uma mulher engravida, é unânime pensarmos na saúde, reforçarmos os bons hábitos de vida, comemorarmos, desejarmos parabéns e por aí vai...

E quando essa gestação não vinga e esses pais perdem o bebê, que foi tão desejado? É claro que a princípio pensamos em acalmar e desejar que esses pais parem de sofrer, muitas pessoas tentam dar esse apoio usando frases como “pense positivo, seria pior se perdesse ele já grandinho”(sic), “não faz mal, logo você engravida de novo”(sic.), e por ai vai...

Mas se pensarmos que esse bebê já existia para os pais, que essa mãe sentiu a presença do filho todos os dias, que ela sentiu ele se mexer, que eles conversaram, cantaram e contaram histórias, que descobriram o sexo, escolheram o nome, montaram um enxoval, arrumaram o quartinho todo lindo para vida dessa criança, planejaram uma vida com essa bebe, independente deles terem visto o rostinho ou não.

A morte dessa criança é a morte de um filho. Dói como a morte de filho já nascido. Os pais sofrem sim, os pais sangram com a retirada desse bebê, sim ele ainda estava na barriga, eles nunca viram o rostinho, eles podem nunca ter segurado o filho, mas ainda assim, é o filho deles. Não temos como repor essa perda com uma nova gestação, este bebe nunca vai ser como o bebe gestado anteriormente, assim como não podemos repor um filho já grande por outro.

Nós, estudiosos da área, consideramos as perdas gestacionais como lutos não reconhecidos, ou seja, é como se a mãe (e o pai) não pudessem expressar estes sofrimentos, sempre havendo um julgamento intenso. Isso só dificulta a elaboração desse luto.

Por esse motivo, quis aqui pautar algumas questões que podem ajudar familiares e amigos à não cometerem gafes e colaborar para a intensificação desse sofrimento.
- NÃO SUBESTIME A DOR DA PERDA GESTACIONAL!
- NÃO FINJA QUE NADA ACONTECEU!
- NÃO FALE QUE ELES PODEM TER OUTROS FILHOS!
- Se o bebê tinha nome, se refira a ele pelo nome ao manifestar os sentimentos.
- Pergunte se pode ajudar de alguma forma.
- Esteja preparado para ouvir.
- Se houver funeral (para casos de perdas tardias), não pense em faltar. (Se fosse uma criança já nascida você faltaria?)
- NÃO CULPABILIZE PAIS, FAMILIA, EQUIPE MÉDICA E HOSPITAL. (Isso não ajudará em nada, e só gerará mais sofrimento)
- NÃO DIGA PARA OS PAIS SUPERAREM RÁPIDO!
- NÃO DELIMITE UM TEMPO PARA ESSES PAIS ELABORAREM O LUTO.
  
Devido à complexidade existente na perda gestacional, muitas vezes é necessario que pais e famíliares procurem auxílio de um profissional da Psicologia que esteja preparado para trabalhar essas questões. 

Texto escrito pela Psicóloga Giovana Zaparoli de Oliveira (CRP: 06/130331)

Nota: Essa lista foi baseada em uma semelhante acessada no site “Vamos falar sobre luto” escrita por Cynthia de Almeida em 9 de Janeiro de 2016. (http://vamosfalarsobreoluto.com.br/post_helping_others/a-perda-gestacional-e-uma-perda-real-e-uma-dor-imensa-nao-a-subestime/)
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